por Arlinda Alves
de Sousa
Eu
assentada diante de um computador com intenção explícita de escrever minha
história de leitora; para mim, que a conheço, fica engraçada essa
possibilidade.
Ainda
sem noção do que era escola, ouvia da voz da minha vó Luísa causos assim: sabe,
minha filha, naquela árvore mais frondosa, ali na mata da biquinha, mora o Pé
de Garrafa. Pé de Garrafa? Ela mostrou-me a árvore, era toda limpa ao redor.
Deixava a conversa prosseguir. Ela descrevia o Pé de Garrafa dizendo: quando é
noite, ele pula por aí nesse cerrado. Na cabeça repousa um tacho. E... De vez
em quando, solta um grito. À noite, quando íamos dormir, ouvia não só o grito,
mas também o barulho dos seus saltos. Quando o sol substituía a lua no céu e eu
saía pra pegar gabiroba e murici, via o rastro do Pé de Garrafa. Voltava em
disparada para casa.
O
tempo foi passando... E um dia vi uma lagartinha rodopiando no chão de terra,
fazendo o rastro do Pé de Garrafa. Descobri
que os saltos eram dos cavalos piados que pastavam perto de nossas casas (era
só cerrado).
Como
eram doces aqueles dias. Minha vó, mulher nascida e criada na roça, nunca vira
um livro, mas na noite de lua cheia se punha a contar a história que acontecera
pelas beiras do rio Urucuia. Rio bonito, com muito peixe. Naquelas bandas tinha
uma família que por força do destino não tivera filho varão. Só uma menina de
nome Diadorim. Era tinhosa que só! Já crescida, viu-se obrigada a ir para as
frentes de batalha para defender seu povo. Mulher, se fez homem! E foi para a
batalha... Lá conheceu Riobaldo. Homem bom que só.
(...)
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¹HISTÓRIAS DE LEITORES. Hilda Orquídea H Lontra(Organizadora). Brasília:
Editora UnB, 2006.
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imagem: colhida na Rede.
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imagem: colhida na Rede.
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