domingo, 11 de outubro de 2015

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

substituta de Deus















a tarde cai.
você já vai embora?
sim. já vou embora.
vai me deixar aqui sozinha?
não vai esperar minha filha chegar?
a senhora não vai ficar sozinha.
vai ficar na companhia de Deus.

no que, prontamente, vem a resposta:
- quando você vem, ele não vem! ele sabe que você está aqui.

sorrisos.
mais silêncio do que sorrisos.
ela retorna aos bordados.
eu continuo a lavar as louças.
emocionada com o que acabara de ouvir.
"quando você vem, Deus não vem".
ele não vem pois sabe que você está aqui, cuidando de mim.
quanta responsabilidade a minha.
de ser a substituta de Deus para essa senhora.
como ir embora, no meu horário de pegar o ônibus,
depois de ouvir uma dessa?

Deus confia em mim.
Quando venho, ele não vem.
Amém.




domingo, 6 de setembro de 2015

bom dia da paciência















diariamente
a alvorada acontece
sempre igual.
ainda na rede, a voz acorda a casa
o café tá pronto?
já está atrasado!
na outra ponta da casa, o eco:
o café tá pronto?
já está atrasado!
nesse cantar de lá e de cá,
a casa acorda.
o dia amanhece
a vida acontece, renovada
a voz e o eco se encontram
sorrindo
com o bom dia de todos os dias
que fortalece, amadurece
bom dia da paciência.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

o que é amar?



todos os dias o cuidador leva baronesa para tomar banho de sol.
nesse ir e vir, acontecem muitos diálogos.
ela, sempre resiste, cria estratégias para não ir.
ele, habilidoso, com muito jeito
depois de soltar muitos aviõezinhos,
consegue levar baronesa para tomar banho de sol.

nesse ato de vencer, com sensibilidade, as resistências da baronesa,
que reclama, reclama
de tudo tudo o que ouve
de tudo o que ver,
o cuidador mantém o diálogo sempre com a máxima:
eu te amo, eu te adoro.
no que baronesa retruca:
- cuidador, você não sabe o que é amar.
- baronesa, você sabe o que é amar?
- amar é ter paciência. ela responde.
- baronesa, você tem paciência?
ela pensa, pensa e, sorrindo, responde:
- não.
encerram o diálogo com um largo sorriso,
sob a luz do sol.
afinal, o que é amar?

segunda-feira, 18 de maio de 2015

se eu parar, ela morre












advertido por suas brincadeiras, peraltices,
o adulto, entre sorridente e reflexivo, justifica:
faço o que faço para não deixar morrer
a criança que está dentro de mim.
se eu parar, ela morre.