terça-feira, 22 de novembro de 2011

CURA SILENCIOSA¹

A diferença entre ficar sozinha e ficar consigo mesma

Vivi recentemente uma experiência diferente, um retiro. Não, não fui para nenhum lugar especial, nem tive a orientação de nenhum mestre. Simplesmente senti necessidade de silêncio. Meu marido entendeu e viajou com as meninas, dei folga para a pessoa que nos ajuda em casa e fiquei comigo mesma por cinco dias. Descobri que tenho o poder de me curar. Que alívio.

Comecei meu retiro bem cedo, em tempo de ver o sol nascer na praia do Jabaquara, em Paraty. Fiquei um longo tempo contemplando o céu e seus tons  de rosa, vermelho e dourado, que se misturavam. Junto com o abraço quente do sol aprendi minha primeira lição: como é difícil ficar em silêncio. Sentada na areia da praia, a cabeça não parava de pensar – no que as crianças estariam pensando com a ausência da mãe, no projeto que precisava ser entregue. Respirei fundo e aceitei que a quietude viria com o tempo. Voltei caminhando para casa, descobrindo cheiros, sons, plantas, casas, montanhas, vales, canoas e serras. Ao chegar, abri o diário e comecei uma nova página, “Hábitos que quero cultivar onde quer que eu esteja”. O nascer do sol e a caminhada estavam lá, no topo da página.

Logo me vi ansiosa para escolher o que fazer depois. Uma carta com o desenho de uma mandala, oferecida por uma amiga, me mostrou o caminho: era hora de descansar corpo e mente. Entendi que não precisava fazer nada mais que dormi quando tivesse sono, comer quando sentisse fome ou simplesmente ficar quieta.

Os dias passavam e confirmavam a importância da persistência. Aos poucos ficou mais fácil meditar. Escolhi um bonito pano indiano  – que ganhei de meu sobrinho e que estava guardado no armário – para os momentos de meditação. Olhava aquele pano estendido no chão e me lembrava de que conseguia ficar em silêncio. Senti a melhor a diferença entre estar sozinha e estar comigo mesma. Vivo cercada de tantas pessoas que nos poucos momentos em que fico sozinha quero ler um livro ou assistir a um filme. Nada contra esses momentos, pelo contrário, mas é diferente de estar em contato comigo. E esse contato faz falta.

No meio dessas reflexões, encontrei um livro que coincidentemente falava sobre a importância dos retiros em culturas primitivas. Contava que, nos tempos antigos, a solidão voluntária era usada para curar a fadiga e evitar o cansaço. Mas também era usada para curar a fadiga e evitar o cansaço. Mas também era usada como um oráculo, um meio de se escutar o eu interior em busca de conselhos e orientação que, de outra forma, seriam difíceis de ouvir no burburinho do dia-a-dia. Era o meu caso.

Difícil descrever a sensação de serenidade que senti ao final do processo. Além de uma quietude interna, percebi mudanças físicas também. Como no último dia, quando meditei ouvindo um mantra. As vibrações sonoras repercutiam em todo o ambiente, comecei a cantar e, ao final, sentia cada célula do meu corpo vibrar. Repeti a experiência mais tarde e o resultado foi o mesmo. A sensação era próxima de um trabalho de cura que fiz com uma especialista, mas desta vez quem fez o trabalho de cura fui eu mesma.     


¹ SANDRA CHEMIN, publicitária. Revista Vida Simples, maio, 2007.


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