sexta-feira, 9 de março de 2012

Diário - pelas RUAS e (en)CANTOS das CIDADES


Ao olhar esta janela .... o que vem à sua lembrança? Ela lembra a você outra(s) janela(s)? Qual a história que, instantaneamente, surgiu, neste instante, em sua memória? Conte-nos.

quarta-feira, 7 de março de 2012

CADERNOS¹



Na minha adolescência eu escrevia diário. Às vezes usando caderno de escola que não chegava no fim; mais vezes comprando um especial. Especial porque eu sabia que ele ia ser o meu diário, a cara dele era igual aos outros da escola.

Acabava um e começava outro, acabava um e começava outro: escrevi não sei quantos cadernos.

Era uma escrita apressada, de letra virada garrancho, toda esquecida dos exercícios de caligrafia de quando eu era criança. Era um registro compulsório de tudo que me acontecia; emoção, dúvida, tristeza, expectativa, estava tudo lá. E era compulsório, sim: ninguém sabia que eu empilhava aquela escrita toda, nunca tive vontade de mostrar os meus cadernos pra ninguém, e mesmo pensando uma vez que outra, quem sabe um dia eu vou ser escritora? nunca me ocorreu corrigir um período, uma frase, nem tampouco abrir um dicionário pra tirar a dúvida que tantas vezes me batia, se aqui tinha um s antes do c, se ali tinha acento ou não – mas eu tinha que escrever. 
(...)
Tinha dias que eu escrevia horas a fio.
Tinha dias que eu só escrevia uma página.

Mas se não escrevia eu me afligia. E muitas vezes, se eu não escrevia de dia, eu acordava no meio da noite pra escrever.

Um dia (eu ia fazer dezenove anos), do mesmo jeito espontâneo que eu tinha começado a escrever diário, eu deixei de escrever diário. Foi no tempo que eu achei que ia ser médico (um ano depois eu ia desachar). E, limpando gaveta pra minha papelada de vestibular, eu tive um acesso de hoje-eu-começo-vida-nova-o-passado-passou, e rasguei os meus cadernos. Todos.

Sempre achei uma pena.
Sempre sabendo que, se fosse hoje, eu rasgava tudo de novo outra vez.

Foram quase três anos de escrever diário. Não me lembro de ter sentido cansaço ou tédio naquelas horas. Não me lembro de algum dia – um só – ter passado, essa coisa de ter que escrever é meio chato, não é não?


¹  LYGIA BOJUNGA. Livro - um encontro. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2007. 

terça-feira, 6 de março de 2012

Diário - pelas RUAS e (en)CANTOS das CIDADES


CONTROLE REMOTO¹

- Mas como vou entender o que esse menino diz sem usar a tecla SAP? – perguntou a mulher, muito espantada. 

- E que negócio é esse de ouvir as vontades do menino? Não é só ele quem tem que ouvir nossas vontades? – perguntou o homem, pasmo.

- O menino não precisa de CONTROLE REMOTO – disse o técnico. Esse tipo de aparelho só serve para adultos que esqueceram como funcionam as crianças, e só em casos graves! Sumam com o CONTROLE! É a minha recomendação.

Não foi uma decisão fácil, mas o casal jogou o CONTROLE REMOTO no lixo.
(...)
E, como em toda família, nem tudo era perfeito. Sempre tinha algum pequeno segredo, que não fazia mal em ficar guardado. O filho, por exemplo, havia pegado escondido o CONTROLE REMOTO antes que o caminhão da limpeza levasse o lixo embora ....  











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¹ TINO FREITAS. Controle Remoto.Ilustrações MARIANA MASSARANI. Rio de Janeiro, RJ: Manati, 2009.

segunda-feira, 5 de março de 2012

COPA DO MUNDO


ASAS DA LOUCURA¹


À noite, lia até bem tarde. O pai, que estudara engenharia em Paris na École Centrale des Arts et Métiers, tinha espalhadas pela casa pilhas de livros em francês, inglês e português. Alberto leu a maioria deles, até mesmo os manuais técnicos. Os livros favoritos eram de ficção científica. Ele gostava da imagem de Júlio Verne de um céu povoado de máquinas voadoras e, aos dez anos, já tinha lido todos os seus romances. Aprendeu nos livros de engenharia do pai que o balão de ar quente fora inventado em 1783, por Joseph e Etienne Montgolfier, fabricantes de papel em Annonay, na França, uma cidade no vale do Ródano, a 64 quilômetros de Lyon.
(....)
EM 1883, Alberto Santos-Dumont, aos dez anos, ainda não vira um balão, mas imitava a invenção dos Montgolfier em miniatura. A partir das ilustrações dos livros, ele fazia pequenos balões de papel e os enchia de ar quente com a chama do fogão.
(...)
Por ter lido Júlio Verne, Alberto estava convencido de que as pessoas já tinham ultrapassado a etapa dos balões de ar quente e haviam voado em aeronaves, também conhecidas como dirigíveis (balões a motor que obedeciam à ação do leme). A família e os amigos tentavam dissuadi-lo dessa idéia. Ele e outras crianças gostavam muito de uma brincadeira. “É um divertimento muito conhecido. As crianças colocam-se em torno de uma mesa e uma delas vai perguntando em voz alta: Pombo voa? ... Galinha voa?... Urubu voa? ... Abelha voa? ... E assim sucessivamente. A cada chamada todos nós devíamos levantar o dedo e responder. Acontecia porém que de quando em quando gritavam: Cachorro voa? ... Raposa voa? ... ou algum disparate semelhante, a fim de nos surpreender. Se algum levantasse o dedo, tinha de pagar uma prenda.

“E meus companheiros não deixavam de piscar o olho e sorrir maliciosamente cada vez que perguntavam: Homem voa? É que no mesmo instante eu erguia o meu dedo bem alto, e respondia: Voa!!! Com entonação de certeza absoluta, e me recusava obstinadamente a pagar prenda.   


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¹ PAUL HOFFMAN. Asas da Loucura: A extraordinária vida de Santos-Dumont. Trad de Marisa Motta. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004

domingo, 4 de março de 2012

O LIVRO DAS EMOÇÕES¹



10 de junho
Não vou seguir a sugestão de Maurício. Não pedirei a ninguém para escrever por mim. Se Homero, cego como eu, pôde compor A Ilíada e A Odisséia, por que eu não seria capaz de escrever minha odisseiazinha particular?  (...)
27 de junho
O livro que pretendo escrever com base no meu velho diário fotográfico poderá ser considerado um álbum de minhas memórias sentimentais e incompletas, de uma época em que eu via, e via demais. Vou chamá-lo O livro das emoções.  A vida não se mede por minutos, nem memórias são escritas com a enumeração de tudo que se passa diante dos ponteiros do relógio. Aliás, uso um relógio sem ponteiros, que, tal como botões do rádio que vão direto às estações com melhor emissão, correm aos fatos que ainda fazem meu coração bater. Parodiando o poeta, penetro cegamente no reino das imagens. 


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   ¹JOÃO ALMINO. O livro das emoções.Rio de Janeiro:Record, 2008.

sábado, 3 de março de 2012

A VOZ de uma Professora

O Governo Brasileiro anuncia o PISO Nacional do Magistério para 2012. Trata-se de uma providência positiva.Chegaremos lá, com muitas outras iguais a esta. Eis um vídeo oportuno e atual; com a palavra, a Professora Amanda Gurgel.